domingo, 26 de fevereiro de 2012

Chaves Perdidas

Não me canso de olhar a foto da minha família. Pai, mãe e dois irmãos - um de 14 e um de 5 anos. Já coloquei a foto em um quadro e pendurei na parede, bem de frente pra mim. Ampliei a foto bem grande, me deito olhando pra eles antes de dormir e converso com eles. O Canjica fica me olhando. Ele vem pra junto de mim, fica me olhando falar e quando eu me calo ele dorme.
Sabe o “CD Pirataria Intergaláctica” gravado lá no disco voador? Então, tem uma versão especial de Misty – eu conheço a música em várias versões, mas esta que me mandaram é completamente diferente pra mim. 
Escuta aí.
Misty by Vanderbit Band on Grooveshark
Eu gosto muito das big-band e esta versão está bem country... Gostei... Bem ao estilo country americano... Bem diferente.... Os outros arranjos que já ouvi são meio lentos.

O céu aqui está azul, lindo, profundo. As nuvens brancas, o sol imenso, forte, quente... Isso é a Califórnia... É meio dia agora.
Um dos livros que me trouxeram fala de códigos. Existem alguns livros aqui na Terra que só os extraterrestres que os escreveram é que podem explicar e traduzir. Os humanos não conseguem e acabam fazendo ideias erradas sobre tais livros, não entendem por que estão escritos em código – eles dizem – mas não é código, é a escrita normal deles. Quem sabia o que queria dizer não passou adiante e hoje ninguém mais sabe interpretar isso. É assim que se perdem os ensinamentos... Aliás, se perdeu tudo... Se os humanos tivessem vivido segundo o que lhes foi deixado, não adoeceriam porque ali estavam todas as nossas experiências para conservar o corpo sadio, para nunca adoecer... Mas perderam tudo, o que é natural do ser humano.
Eu sou naturalista, não como carne de animais – o meu cheeseburger é de soja, e é uma delícia. A carne faz um mal terrível e os homens não foram feitos para o consumo da carne. Volto a avisar, não estou vendendo produto algum, fazendo propaganda de nada, ditando regras... Estou apenas conversando com vocês, não estou contra ninguém. Estou contando minhas experiências de ET no planeta Terra.
Os alimentos enlatados que eu uso e os sucos prontos que eu tomo não têm química. Os biscoitos, bolachas, só caseiros. Pão e torradas são integrais. Macarrão, só uso natural. Os queijos são bancos, tipo ricota ou de coalho, que eu tempero na salada na hora de comer – com ervas. Mesmo quando criança eu já comia assim, eles me orientavam, me proviam das coisas e às vezes me mandavam provar as comidas da Terra pra experimentar... Eu como quase tudo cru. Cozido, só uma coisa ou outra - e no vapor.
Faço exercícios – pedalo a bicicleta, faço caminhadas, corro. Consumo bastante líquidos - sucos, leite, água de coco, água, leite fermentado - nos intervalos das refeições. Me cuido...
Não posso engordar, tenho eu ser magrela. Já viram ET gordo? Então... Não existe ET gordo, porque comemos para viver e não vimemos para comer.
Beijos.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Gigantes adormecidos


Como já falei, tenho uma casa agora. Adoro sentar na janela e ficar à toa olhando o nada.
O pessoal do disco voador me trouxe um binóculo pra olhar o céu, lá em casa, e o meu planeta. Trouxeram também uma foto da minha família e o jazz que eu queria. 
Lullaby of Birdland by Dexter Gordon on Grooveshark
A música veio em um CD gravado por eles – pirataria intergaláctica! Tem 20 músicas, incluindo as que eu já toquei pra vocês.

Eles me trouxeram também um telescópio, mapas do céu e um livro de astronomia... Vou ter muito com o que me divertir. Estou ficando uma ET muito humana, adquiri hábitos e necessidades humanas, porque vivo aqui desde bebê, então o meu organismo já se adaptou ao planeta, sou igual a vocês agora, só que com poderes. Aliás, vocês também têm, só que não desenvolveram isso. Sabem por que? Porque perderam os ensinamentos onde estava todo o processo de evolução de vocês, e não o seguiram... Resultado? Esqueceram como se faz, perderam. É por isso que as crianças que estão nascendo aqui agora já estão modificadas, estão vindo melhoradas, trazem o sensorial mais desenvolvido... Vamos voltar à era dos super-homens, super heróis – por enquanto, pra vocês, são só histórias... Vocês perderam tudo isso, ficou esquecido.
O ambiente aqui inibe esses sensores que nos fazem ter os super sentidos, por isso a necessidade de exercícios para ativá-los. Só que tudo se perdeu, ninguém se importou em fazer nada e isso ficou atrofiado, oculto. Lá com os meus já é diferente, o nosso mundo lá nos desperta todo o potencial, a força.
Agora eu fiquei sabendo que eu sou mesmo mais humana do que ET e o meu organismo não irá mais se adaptar ao ambiente de lá. Só vou conseguir viver lá com roupas especiais, porque me criei fora do ambiente. Já a minha mãe é mais ET do que humana, vive melhor lá do que aqui na Terra.
Pra viver aqui eles têm que usar roupas especiais e nós que vivemos aqui temos que usar roupas especiais para viver lá. Os organismos se acostumaram aos ambientes onde viveram e cresceram. As crianças que foram daqui, ainda bebês e cresceram lá, vivem bem e estão adaptadas. O mesmo acontece com os bebês que vêm de lá: vivem aqui como humanos, apesar de serem ETs. As crianças que foram daqui pra lá são todas filhos de pais de lá e nós que viemos de lá somos filhos de terráqueos que vivem lá agora, foram levados pra lá porque são mais ETs do que humanos. As mães de lá já não estavam mais tendo filhos, por isso vieram buscar mulheres daqui para serem fecundadas por homens de lá, repovoar o planeta. Nós viemos pra cá pra isso também, pra servirmos de base para os estudos deles.
Mas deixa a biologia pra lá e vamos conversar sobre outras coisas. Agora chegou a minha vez de perguntar a vocês: por que vocês não acreditam no que os iguais a vocês dizem sobre os ETs?.. Vocês acham que ETs não existem? Eles existem, sim. Ou melhor, nós existimos – viu como eu já falo como uma terráquea? Não me incluo mais... Pois é, os ETs existem, sim, e estão bem aqui junto de vocês, foram criados aqui e estão em todos os lugares. Somos fontes de estudos e adaptações aqui na Terra. Somos híbridos, como todos vocês foram no início, até desenvolverem a sua própria raça com os nascidos aqui – mas o DNA original foi nosso. Nós somos uma nova experiência na qual alguns erros foram corrigidos e outras adaptações feitas e incluídas. Vocês maltratam muito o corpo de vocês, ao invés de conservá-lo, vocês o destroem e adoecem o tempo todo por causa disso – doenças degenerativas. O corpo de vocês foi desenvolvido de maneira que se adaptasse aqui na Terra... Mas vocês os destroem com seus vícios e exageros – não sou ninguém querendo fazer campanha do verde nem de salve o planeta, não sou ecologista nem simpatizante de causas, nada disso. Sou uma amiga que não compreende como vocês, com um lugar tão lindo e privilegiado como a Terra, podem degradá-la assim.
Acho que o que falta para vocês é verem como são os outros mundos que tem por aí, presenciar a luta que é para sobreviver em lugares assim, e vocês com um paraíso desses, o desperdiçam. Tem mundos parecidos com o de vocês, mas não iguais... Este é o planeta mais cobiçado do universo, pela variedade de coisas e pela natureza esplendorosa... Pena que a maioria da população não reconheça isso. Se deteriorou em vocês o amor, a fé, a esperança. O egoísmo entre vocês é enorme. Cada um só pensa em si, só quer para si... Quando deixaram de dividir as coisas entre vocês, o mundo virou isso que é hoje... Puro egoísmo.
O nosso mundo lá é bem parecido com o de vocês. Agora, aqui (como eu já disse) vocês ficaram um tipo mais bonito devido ao ambiente gentil. A geração começou a mudar, as pessoas começaram a ficar mais aprimoradas na aparência com os cruzamentos, pena que isso não se deu no interior também. Não evoluíram nos seus potenciais. Se vocês, bonitos do jeito que são, fizessem o que nós podemos fazer.... Seriam deuses. A casta do universo. E eram para ser, porque descendem de deuses como nós, de raças puríssimas, só que se misturaram com outras raças e acabaram desvirtuando as gerações que foram ficando cada vez mais fracas, perdendo todo o potencial, se afastando do real.
Uma vez ou outra nasce o que vocês chamam de gênio. Vão cruzando, cruzando, até que sai um quase puro da raça que iniciou roda a geração do planeta.
Alguns têm os potenciais bem desenvolvidos, mas vivem escondidos, não mostram o que podem fazer porque têm medo de parar em um laboratório de pesquisas, servindo de cobaia (como têm alguns por aí sendo estudados). Se eles nos descobrirem, souberem onde estamos, coitados de nós... Por isso nós nos mantemos ocultos observando, estudando vocês, para saber o que deu errado e poder arrumar.
As crianças índigo e as crianças cristal estão chegando para arrumar essa bagunça e fazer as coisas do jeito que elas deveriam ser – e têm que ser.
Beijos. 

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Tempestade, do camarote.

Da minha janela observava uma tempestade de raios que encheu a clara tarde de verão. De repente o céu se transformou e mais trovões e relâmpagos começaram a cair sobre a Terra.

Quando acontecem essas tempestades de raio secas, tem sempre uma nave por perto. E não são das nossas, são dos inimigos de vocês. Nós somos da paz, estamos aqui para ajuda-los. Os rapazes do disco voador disseram que estes outros de quem estou falando têm vindo bastante por aqui, provocar catástrofes. Eles querem destruir a humanidade para se apoderar do planeta. A galáxia está em guerra e eles precisam de um novo mundo para viver. Exterminando vocês, eles virão ocupar a Terra. Inclusive, eles também nos procuram, pois sabem que queremos ajudar os terráqueos, então nos caçam. Vivemos entre vocês e vocês nem sabem... Bom, eles sabem. Como somos parecidos com vocês e passamos despercebidos, fica difícil eles saberem quem é quem. É por isso que não podemos nos mostrar, não devemos nos expor. Temos poderes, somos rápidos e fortes, por isso eles nos temem e querem acabar conosco, nos pegar de surpresa. Querem nos eliminar, pois assim será mais fácil se apossar de tudo aqui. Só que eles não sabem que já somos muitos aqui na Terra - eles acham que são só alguns que vieram preparar tudo aqui para a vinda dos outros e evitar a chegada deles.
Lá no espaço, longe dos olhos de vocês, está pegando fogo! Outras civilizações existem – acreditem nisso – e algumas delas querem destruir a Terra. Eu gosto muito de conversar com os rapazes porque fico sabendo das coisas que acontecem lá por cima. Eles me informam de tudo. 

Mas é claro que tem muita gente que também já sabe de tudo isso que está acontecendo no universo. Gente daqui (terráqueos) e gente de fora, sejam invasores ou aliados. Há inúmeras maneiras de saber e de perceber (sentir) a verdade sobre as origens de tudo. Este próprio tempo é um tempo de abertura, inclusive. Antes, era muito mais difícil saber das coisas. Mesmo assim a maioria das pessoas ainda não sabe de coisa nenhuma – deve ser porque não querem saber, não se interessam. Tanto é que aqueles que sabem de tudo nem fazem mais questão de esconder... Filmes, livros e músicas trazem muitas informações sérias e verdadeiras, com a etiqueta de ficção ou fantasia. Tem muita pista boa e dica quente dando sopa por aí.
06 - O Dia Em Que Faremos Contato by Lenine on Grooveshark
O disco vai ficar sempre aqui em cima da casa agora. Ele é um laboratório de pesquisas, que fica passando informações em tempo real para Capella. Estão instruídos para missão de salvamento, por isso não se afastam de mim. Enquanto me guardam (por ordens de meu pai), fazem pesquisas e dão boletins diários sobre tudo o que acontece aqui na Terra.

Tem muitas outras naves menores nossas por aí, sobrevoando tudo, colhendo informações e acontecimentos no mundo todo, e enviando para as naves como a que está estacionada sobre a minha casa. Só que esta nave é minha, presente do meu pai e, como está estacionada, montaram um laboratório de pesquisas e uma central de informações. Agora eu já sei que este é o meu veículo e que os rapazes são a minha equipe. Eles me observam e estudam, através de mim, a vida na Terra, o ambiente e as pessoas. Desde criança sou monitorada, eram aquelas pessoas que eu via no pé da minha cama e tinha medo porque não sabia quem eram e nem o que era aquilo que eu via. Só aos 14 anos me contaram tudo o que já contei pra vocês e depois, já quase agora, eu soube do resto e dos detalhes.
Quando eu comecei a receber ordens de vir pra cá, ir pra lá - e eu ia - eu nunca via ninguém, só ouvia uma voz. Depois daquela confusão lá do meu professor, quando eu me mandei daquele lugar e fui parar novamente na estrada deserta, é que a nave veio me pegar. Confesso que fiquei assustada, emocionada, nervosa e morrendo de medo quando vi aquele “discão” voador sobre a minha cabeça, me seguindo, e recebi ordens de parar e subir. Eu nunca tinha visto um disco voador pessoalmente, só em fotos de revista – péssimas fotos, nada a ver. As naves são lindas! Lá dentro, me senti em casa.
Voltando à tarde em que observei a tempestade da minha janela... Meu pessoal, dentro do disco, se afastou.  Foram lá na tempestade ver o que estava acontecendo e aproveitar para carregar a nave com a energia eletrificada dos raios e catar os coriscos que caíam sobre a terra - uma espécie de esporte nosso. Lá onde caía a tempestade de raios, escureceu. O vento soprava forte e as nuvens cumulus ninbus rolavam rápido pelo céu. Gosto de ver essas tempestades passarem... Troveja, faíscas cortam o céu riscando caminhos sinuosos como teias de aranha e somem. Não choveu. Era uma tempestade seca e não derramou uma gota d´água.
O disco voador voltou trazendo uma novidade pra mim: um galo todo branco. Aliás, frangote ainda. “É o Canjica”, eles disseram. Eles ganharam o galo em um jogo de cartas, no bar. Foram jantar, convidaram eles para um carteado, eles aceitaram - e ganharam, lógico. O prêmio era o Canjica e trouxeram ele pra mim. Ele cantou todo atrapalhado, desafinado, porque ele é novo no canto ainda. Está nos primeiros ensaios de cantar como galo.
Só me faltava essa, um galo na minha vida. Pra onde eu vou, ele vai atrás de mim. E agora eu tenho um colega de janela.
Beijos

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Tanto segredo....


Oi!
O espaço aqui onde estou morando é vazio, não tem nada, móvel nenhum. Tem algumas coisas em espaços improvisados: são os “bota coisas em cima”. Assim são os meus móveis. Agora tem outro desses “bota coisas em cima” com TV, som, DVD. É baixinho também, só a parte da TV é mais alta um pouco com 90 cm de altura – a coluna central. Tudo está colocado aos redores, só esse com a TV que ficou bem no meio. O local é pequeno e a parte que eu chamo de – a minha cozinha – fica do lado direito da janela da frente. 

A porta de entrada ao lado que dá pra escada, fica permanentemente fechada – entro e saio pela janela sempre, não uso porta. Não, não sou vampiro, não. Os vampiros são uma raça, inclusive, que nós caçamos... Eles foram banidos da face da Terra, deles resta algum DNA por aí, mas estão muito bem escondidos, disfarçados, porque todo mundo os caça, então se disfarçam de gente comum. Mas é fácil conhece-los: só andam de preto, óculos escuros e são muito pálidos – porém lindos.

Olha, tem muita coisa que eu queria contar pra vocês, gostaria de revelar a vocês, mas vão me tirar do ar se eu fizer isso, eu sei... As pessoas com quem eu me comunico sabem como isso é perigoso.

Agora... Eu não sei para quê manter tanto segredo... São tantas coisas deixadas aqui... As pirâmides – como poderiam, naquela época em que quase nenhuma tecnologia existia, construírem colossos daqueles? Porque havia tecnologia ou algum método muito mais avançado que nos dias de hoje.

Nós somos da Terra, viemos, voltamos, tornamos a vir. Vocês são gente nossa que ficaram aqui, trouxeram tudo, fizeram mapas pra que os que ficaram se orientassem. As invenções que facilitam a vida...

Os nascidos na Terra (a raça que se originou das misturas feitas) são vocês, os humanos. Os nascidos aqui são esses que estão em guerra, matando, roubando... Nós não fazemos nada disso. Esse é o homem da Terra.

Nós tentamos melhorar a espécie... E foi em vão... Saiu do controle, virou praga, se misturou com outras raças que aqui desceram e surgiram essas aberrações...  A maldade de proliferou, a vida não vale mais nada. Esse não é o homem que criamos, eles eram bons, puros, simples, dignos... Hoje em dia, não são mais.
Não tem nada de religião, de lavagem cerebral, aqui é a consciência.... E os que têm consciência são os diferenciados.
O problema é que aqui na Terra, a maioria vive alienada, não prestam atenção em nada, não analisam, não alcançam as mensagens, acham que isso tudo é apenas ficção... Coisa de filme.
Toda lenda, toda história, tem fundo de verdade.
Onde está a verdade?... Aqui ou lá fora?
Beijos. 

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Recomeço

Oi! Estou morando em um sótão agora. Coloquei um frigobar, enchi com água de coco, suco de uva, água, caixas de leite com fibras, com frutas e só leite mesmo. Tem ainda sucos variados e leite fermentado.
Meu organismo se adaptou bem à Terra e, depois de todos estes anos consumindo coisas daqui, me acostumei e sinto falta primeiramente destas coisas que coloquei no frigobar – líquidos.
Eu limpei o sótão deixando só o espaço vazio em cima. Lá embaixo não presta nada, caiu tudo. Coloquei dois colchonetes dentro de um saco de pano no chão sobre um cobertor grosso, um abajur de pé. Aí é o meu quarto. Coloquei um forninho para aquecer os meus sanduíches, que é um 3 em 1: forno, grill, cafeteira - eu adoro café. É tudo elétrico.
Eu compro sempre dois cheeseburgers – um com fritas, salada e uma maçã de sobremesa – esse é o meu jantar. O outro é pra madrugada – só o sanduíche, sem salada, sem batatas, sem maçã... Fico acordada até a madrugada, e como outro. Às vezes como duas tortinhas de banana também ou mesmo de maçã – maçã, prefiro a fruta, mas às vezes trago tortas - gosto muito de comer a maçã fruta.
A sacola tiracolo está atrás da porta com os documentos e algum dinheiro que eles me dão para comprar o que comer. Estou aqui sozinha, afastada do mundo. O meu iPod é a minha única companhia, além dos meus livros, é claro.
Falei para eles que não queria mais morar com ninguém, que agora eu queria morar só – mas tenho que ir para o meio das pessoas para eles poderem estuda-las. Eles estudam as pessoas através de mim. Sou um computador vivo e passo a eles todas as informações sobre tudo na Terra. A maior parte do tempo fico como estou agora, sentada na janela com as pernas pra fora balançando-as, olhando aqui de cima, ouvindo no meu iPod essas músicas terrestres que gosto. Como eu já disse, sou sensivelmente musical. O som me afeta muito, me toca.
Agora vou precisar de todo o meu inglês porque estou no sul de um lugar lindo, a Califórnia. Acho que é o sul, do sul, do sul. É longe, viu... Lugar calmo, quieto, nem sei bem onde fica isso, mas é afastado de tudo. Tem um bosque lindo próximo daqui – aqui atrás. Vim embora, porque não podia me encontrar com o pessoal lá e eles iam me procurar porque coisas como as que eu fiz com eles, só em truques de cinema... Só acontecem em estúdios de filmagem.
Agora a música, meus livros e os sanduíches serão minhas companhias constantes. Neste momento eu estou lendo “O Diário de Anne Frank” e já está na espera “As Brumas de Avalon”, composto de 4 volumes.
Eu pedi a eles para ir embora para a casa da minha família lá em Capella, mas eles disseram que eu devo esperar, pois ainda não acabei aqui. Trouxeram vários livros que eu já arrumei nas duas prateleiras que deixaram aí também. Recebi deles mais duas músicas – agora já tenho um bocado, mas eu tenho minhas cinco preferidas.
A que estou ouvindo agora é:
It Never Rains In Southern California by Albert Hammond, Jr. on Grooveshark
O céu está lindo aqui hoje... Eu achei essa música meio triste, mas é linda... Gostei muito. É... Os caras da nave já sabem o meu gosto musical. Eu gosto muito de jazz também e tenho procurado um que ouvi um dia lá com os caras da faculdade, já pedi pra o pessoal do disco voador procurar pra mim. Eles me trouxeram uma harmônica – gosto do som da harmônica no blues – e eles me trouxeram a harmônica e umas partituras pra tocar. Tudo isso pra matar o meu tempo aqui.
Fiquei muito satisfeita quando achei a caixa de manhã ao acordar. Abri e tinha os livros, a harmônica, as partituras e as músicas. Foi ótimo.
Arrumei uma bicicleta velha que encontrei aqui na casa, lá embaixo e ou pedalando nela até a conveniência mais próxima aqui na estrada comprar meus sanduíches e mais alguma coisa que eu queira.
Tenho vizinhos mais lá na frente, vi os dois quando passei por lá. Um casal de idosos. Ela na cadeira de rodas e ele com uma bengala, se apoiando. Me cumprimentaram e ficaram me olhando interessados. Vai ver se sentem só, isolados aqui sem poderem se locomover direito. Disseram:
- Morning!...

E eu respondi: “Morning!..”. Na volta deixei um jornal pra ele e revistas pra ela. Ficaram satisfeitos. Agradeceram muito e me chamaram para ir lá conversar, tomar um chá. Prometi ir... Tem mais uma pessoa lá que faz as coisas pra eles, uma senhora nova ainda, são três lá na casa. Então eles não estão sozinhos, têm companhia, não precisam de ajuda.
Depois do passeio voltei à minha solidão, ao meu ponto de observação, aqui de cima, de onde também gosto de observar o céu.
A conveniência fica longe daqui, é uma boa pedalada... Os meus vizinhos têm uma caminhonete, a senhora lá deve dirigir.
Depois dessas confusões e dessas vivências com humanos que não deram certo, quero viver assim: só... É melhor. Vou onde eles mandarem – porque ir daqui até a Europa ou África ou Brasil... Pra mim não é problema, num estalar de dedos estou lá...
Não sei se vou me acostumar assim, afastada de tudo, mas não quero mais morar com ninguém, não... Fico melhor assim, sozinha.
Porque me escondo? Vocês não sabem o que os humanos acham dos ETs, não?... Não posso sair por aí, me mostrando. Já crianças e estudantes é outra coisa, não vão me fazer mal nenhum, por isso convivi com eles e, mesmo assim, não deu certo...
Agora, viver com adultos é impossível. Viu o que aconteceu com os caras da faculdade? Não posso ficar me expondo. Ninguém pode me descobrir senão viro cobaia e vou parar em um laboratório sendo morta e cortada para me estudarem. Entenderam?
Beijos. 

sábado, 11 de fevereiro de 2012

No meio da rua, outra vez

No Meio da Rua by Kid Abelha on Grooveshark


Desci da nave em qualquer lugar. Fiquei no meio da rua, não tinha pra onde ir, mas não podia ir com eles. Tinha que esperara-los voltar da missão a que estavam sendo solicitados sobre o mar.
Era noite e fiquei olhando as mulheres que vivem na noite. O mundo da noite na Terra é movimentado e estranho. Eu não tinha destino certo agora, então resolvi matar meu tempo por ali, observando-as.
Tem um tipo de mulher que eu ainda não conhecia, que são homens no corpo e mulheres na alma. Mas não quero falar nesse assunto, tenho medo de falar errado e me comprometer. Não estou esclarecida o suficiente pra falar sobre isso. Mencionei por causa do que vi à noite.


Eu não sabia o que o pessoal do disco voador tinha ido fazer, só sabia que era no mar e imaginei que estavam atendendo ao chamado de alguma base subaquática. Temos bases submersas nos oceanos e outras subterrâneas nas montanhas, assim como bases de interação nas matas. Eu sou um ponto de interação pra eles.


Somos pessoas das quais ninguém desconfia, porque vivemos isoladas só indo para o mundo quando há alguma pesquisa para ser feita. Ninguém sabe onde estamos, mas muitos sabem da nossa existência aqui e acreditam nisso – poucos. Já outros, não acreditam – a maioria. Isso não faz diferença pra nós, vamos sempre a lugares diferentes e sumimos dos lugares onde ficamos em evidência, como essa vez que aconteceu comigo lá na faculdade. Não poderia mais voltar lá. Eu tinha que arrumar outro lugar pra ficar. Cometi uma falta grave, devia ter feito todos adormecerem e não lembrarem de nada ao acordar, mas eles me viram chegando e o tempo era urgente, não havia mais espaço para nada, só para ação.
Deixei a noite e fui me sentar, no porto, olhando o mar. Sentia necessidade de organizar meus pensamentos e decidir o que fazer da vida enquanto esperava o disco voador, que estava sobre o mar, voltar. Eles mergulharam.
Beijos. 

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Carona



        Oi! Foi um tempo confuso este que eu passei entre os humanos. Difícil compreendê-los, mesmo levando tudo na brincadeira e aceitando sem reagir as suas graças. Senti depois deste episódio que era difícil pra mim não ter atitudes e reações assim com eles. E eu não queria machucar ninguém. Eles não eram páreo pra mim, não podiam se defender. E eu ia acabar machucando alguém sem querer.
Resolvi dar um tempo na minha convivência com eles. 
Fui criança de orfanato, tive uma infância péssima. Fui adolescente patricinha lá com o João e a Glória – foi ótimo. Eu era tratada como filha. O pai deles vivia encantado com a minha inteligência e a mãe com a minha habilidade pra fazer tudo e qualquer coisa. 
Me apresentavam como filha deles para as visitas e eu preparei muitos e deliciosos jantares para nós – a família foi uma família mesmo. Uma juventude e tanto tive com eles, apesar do pouco tempo – um ano. Por fim, a mocidade livre e tumultuada da faculdade. Eles pegavam pesado nas brincadeiras horrorosas que tinham. Eu vivia sobressaltada e fazia de tudo para não sair do sério. Eu era o Cristo, só me chamavam ET. “ET, vem cá...”, “ET, olha aqui...”. Eu evitava e em alguns momentos, sozinha, escondida deles, ficava me acalmando para não estourar, não reagir. Foi um tempo chato, esse. Começou legal, mas depois já não era só a minha turma, eram todos na faculdade. Todos já me conheciam porque eles espalharam na universidade inteira que eu era uma ET. Tinha os que tiravam graça comigo quando eu passava, fazendo piadinhas. Tinha os que me rodeavam e tiravam sarro me pedindo pra fazer coisas. Outros só passavam e me olhavam. Eu não tinha mais um minuto de sossego, então eu me escondia, sumia e quando eu voltava começavam: “Foi pra Marte hoje? Como está Saturno?” ou “Encontrou Zeus lá no Olimpo?”. Só besteiras. Comecei a me chatear, ficar intolerante, mas como eram brincadeiras, eu fui aguentando, até esse dia em que vi a covardia dos seis contra um. Eles iam detonar o professor e ninguém ia ficar sabendo depois quem tinha feito aquilo.

Com essa minha reação, então senti que não ia mais poder ficar ali, os caras iam revidar quando me encontrassem e não ia dar certo, porque eu não ia aceitar. Não machuquei ninguém naquele dia, só tirei eles de ação. Só que não foi uma atitude normal, ninguém aqui na Terra faz isso. Chamei a atenção sobre mim e quando aquilo se espalhasse eu seria malhada como um Judas porque agora eles já sabiam que eu não era mesmo humana.

 
Saí dali na mesma hora e outra vez estava na estrada deserta, sozinha, bolsa a tiracolo no ombro andando ao léu pela noite. O disco voador veio me pegar.



Outras Dimensões (A Nave Vai) (2005 Digital Remaster) by 14 Bis on Grooveshark

Sentei olhando lá fora as estrelas passando pela oclusa – janela – calada, pensando no que eu ia fazer. Queria ir pra Capella, mas não podia. Na realidade Capella é o nosso sol. Habitamos um pequeno planeta que orbita em torno dela. E como fui criada aqui, não me adapto lá. Então o jeito é ficar por aqui mesmo. Mas eu adoro a Terra.
Beijos! 

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Covardia


Olá.
Como já disse, a minha aparência é muito boa. Melhorei bastante, na vivência com a turma da faculdade, praticando esporte, nadando. Fui virando gente mesmo. Fiquei na faculdade com essa turma até o dia em que eles encrencaram com o professor.
Aliás, ser professor aqui na terra não é fácil, não... Os alunos não querem estudar, ficam batendo papo, o professor fala e eles não estão nem aí... É como se não houvesse ninguém falando com eles. O pior é o que os pais pensam que seus filhos estão estudando... É por isso que a maioria dos alunos de hoje não sabem nada. Presenciei isso quando frequentei a escola com os jovens João e Glória e, anos depois, na faculdade, percebi que as coisas não mudam muito, não. É esta a razão dos maus profissionais de hoje, não aprendem nada e muitos compram o diploma.
Então, voltando ao episódio, alguns alunos encrencaram com o professor quando este lhes chamou a atenção. Como estavam fazendo barulho e atrapalhando a aula, o professor não gostou e mandou que eles se retirassem da sala. Eu fiquei, pois não estava no meio da confusão que eles aprontaram e os caras acharam ruim comigo porque eu não fui com eles. Saíram fazendo sinais pra mim... Não me importei.
Depois da aula, o professor foi para o estacionamento pegar o seu carro os tais alunos estavam lá esperando por ele. Os seis. De longe, vi quatro deles atacando o professor. 
Corri em sua direção, cheguei lá imediatamente, “do nada” e levantei a mão na direção dos caras, que ficaram suspensos no ar, imobilizados. O professor estava quase em estado de choque, boquiaberto, olhando pra mim. Eu disse pra ele: “Vai.. Saia daqui...”. Ele entrou no carro e saiu à toda do estacionamento. Os outros dois que não estavam imobilizados ficaram sem ação, olhando pra mim também, sem entender, talvez processando a cena diante deles. Eu finalmente desci os quatro, abaixando meu braço e desapareci. Os seis estavam estarrecidos. Ninguém mais viu aquilo, estávamos sozinhos no estacionamento.
Naquele momento eu me lembro de ter pensado: “agora eles acreditam no que eu sempre disse, que eu sou uma ET... Tenho certeza que agora acreditam.” Tive que ir embora, sair da república e da faculdade. Nunca mais voltei lá. Soube que o professor pediu transferência e que aqueles seis covardes trancaram a matrícula.
Eu gostava da aula, gostava da república, dos meus amigos, mas....
Lembro-me do primeiro dia de aula. Esse mesmo professor, ao ler a lista de frequência que cada um assina após a aula, olhou pra turma perguntando “Quem é Etnéia?”. Eu levantei a mão e ele me perguntou de onde eu tinha vindo. Provavelmente ele apenas queria saber de qual outra faculdade eu tinha me transferido, mas um dos meus amigos logo respondeu: “Ela é exilada de Capella, é uma ET...”. A classe toda caiu na risada, até o professor esboçou um sorriso com a reação da turma... Outro amigo meu completou: “Ela é a Etnóia... A noiada... Nóia total!” Outra risada da turma. Alguém, que não era da minha turma, perguntou: “Onde você estacionou o disco voador? No estacionamento?...” Mais risadas... Eu, quieta, sorrindo, só pensava que mal eles sabiam da verdade... Eu os achava uns idiotas. Neste primeiro dia, mais tarde, na lanchonete, o professor me ofereceu um café e me perguntou, sorrindo, por que eles faziam aquelas brincadeiras todas comigo. Eu lhe respondi que eram meus amigos e que a verdade é que eu era, realmente, de outro planeta, mas que ninguém acreditava.
Neste dia do episódio de agressão, quando interferi usando minhas capacidades, tanto os seis alunos quanto o professor (que sorriu com eles no primeiro dia de aula) acabaram descobrindo a verdade, na base do susto. Comprovaram, os sete, que eu estava falando a verdade, apesar de não terem acreditado.  
Beijos!