Já cheguei lá respondendo à pergunta dele:
- Vocês foram feitos à semelhança do Criador, só que de um tempo pra cá, tendo sido deixados sozinhos aqui para darem continuidade à espécie e se desenvolverem por vocês mesmos, uma outra raça invadiu no planeta de vocês e foi se infiltrando devagar e expulsando os primeiros puros, manipulando vocês e dominaram tudo. Todo o potencial de vocês ficou de posse deles, porque como o planeta interfere no desenvolvimento desses supersentidos (que é o sentido além do chamado "normal" que vocês têm), exercícios precisavam ser feitos para despertá-los. E eles então tiraram isso do alcance de vocês. Porque o homem desperto e de posse de tudo o que pode, não se escraviza. Então... Quem iria trabalhar pra eles? Quem iria servi-los? No final das contas, poucos humanos ficaram de posse desses aprendizados, ocultaram isso. Eles acham que destruíram tudo, mas isso está bem escondido.
- E por que esses caras que se apoderaram disso não nos ensinaram? Por que esconderam?
- O próprio ser humano não quer se sujeitar à sua preparação. Ele vive tão absorvido pelas coisas do mundo, que acha que é sacrifício e até perda de tempo isso. Ele mesmo não acredita que pode. De uns tempos pra cá (e até hoje ainda) há muitos mestres por aí apregoando seus ensinamentos secretos, mas são poucos aqueles que realmente podem te dar a orientação certa, te colocar no caminho. Nos dias de hoje não há mais lugar para mentes quietas. O tumulto do mundo, o chamado dele, a escravidão de vocês - levantar, correr pra trabalhar, passar o dia todo atarefado, chegar em casa morto de cansado e "virar pedra" na cama... No outro dia é a mesma coisa... Cadê a vida de vocês? Tudo isso afastou vocês do caminho porque... Cadê tempo para treinamento? Tudo é segundo plano. O primeiro plano é a escravidão: a obsessão pelo dinheiro e pelos bens materiais ilusórios.
- Eu não sou assim. Sou um cara naturalista, gosto de ler, como coisas saudáveis, faço exercícios, pratico esportes e deixo a minha mãe berrar mesmo querendo me ocupar só com as coisas dela. Faço exercícios respiratórios, acampamento, luto karatê. O
karatê me ensinou muita coisa. Vivo diferente dos outros caras. Sou ligado nessas coisas de espaço, ETs, naves espaciais, acredito em tudo isso. Quero fazer eletrodinâmica, eletromecânica, eletro-eletrônica... Porque meu sonho é construir um disco, uma nave espacial, sabia? Eu acho lindo.
- Então. Isso é DNA, está no sangue, está no sangue de muitos de vocês. Muitos têm essa vontade, são apaixonados por espaço, por máquinas, mistérios. Não foi à toa que tu me achastes, estás próximo dos puros, o teu sangue alienígena te impulsiona pro lado certo da vida. E tem outros como tu por aí. A força da raça ainda permanece em você: a vontade de voar, amar a natureza, conhecer o infinito.
- É... Eu olho o céu sempre e digo pras estrelas: um dia vou aí, pertinho de vcs. E isso é forte, sabe? Uma vontade de ir lá pra cima... Nem parece mesmo que eu sou daqui. Não me sinto em casa, não me dou com a minha mãe, com o meu pai, na escola com o pessoal, estou fora de tudo, sou um deslocado, sabe? Não tenho turma, patota, galera, manos, gangue, nada.
- Eu sei como é.
- Os caras me acham esquisito, dizem até que sou boiola.
- O que é isso?
- Bicha, viado, baitola... Essas coisas. Mas eu não sou não.
- Ah, sei. Só não sabia esses nomes.
- Como tu chamas isso?
- Não chamo.
- Conta mais aí.. Quer dizer que nós viemos das estrelas, é? Puxa, que legal. Como é lá? Me conta...
- Eu nunca fui lá. Vim pra cá bebê e fui criada aqui na Terra. Foi na adolescência também que eu comecei a olhar o céu e sentir essa vontade de ir lá nas estrelas. Eu sentia uma coisa que eu não sabia o que era. Só depois aprendi que era saudade. Eu sentia saudade, não sabia de quê... Era de casa. Sentia saudades de uma casa que eu não conhecia. Um dia me contaram tudo e eu saí do orfanato onde morava e comecei a minha função na Terra: viver a vida dos humanos pra que eles, através de mim, estudassem os terráqueos e pudessem saber o que deu errado, pra arrumar tudo outra vez.
- Mas eu não sou ET. A minha mãe filmou o meu nascimento.
- Todos vocês são ETs, são geração de fora, misturas de raças, só que nascidos na Terra, agora. Gerados aqui.
- Ahhh, mas eu queria ser ET mesmo, que nem você, que nasceu lá e veio pra cá bebê. ET de verdade.
- O teu DNA é bem forte. Aliás, muitos meninos na Terra são fascinados pelo espaço, curtem os super heróis, as naves espaciais. Isso é DNA.
- E ninguém sabe, hein... Garanto que muita gente iria adorar saber disso que estás me contando.
- Sim, nessa idade de vocês (ou bem novos) com certeza... Mas os adultos não acreditam nisso, não aceitam. Depois que eu cresci, ficou difícil conviver com os terráqueos adultos. E olha que eu fui criada no meio de vocês. Sou muito diferente?
- Não, olhando sem prestar atenção, passas desapercebida. Agora, olhando bem...
- É. Sou feia?
- Não! Você é uma mulher linda, exótica. Um padrão de beleza diferente da Terra. Postura elegante, séria, um olhar forte que incomoda, sei lá, é muito legal. Chama a atenção.
- É, o pessoal me olha muito quando eu vou comprar o meu jantar. Os caras falam coisas, jogam beijos, me incomodam muito, eu fico torcendo pra não chegarem perto, senão vão se dar mal... Porque não vou deixar tomarem liberdades comigo como fazem com as moças da Terra.
- Não vais namorar ninguém da Terra?
- Não esses caras.
- Ah! Claro, não esses abestados. Mas um cara assim, como eu.
Eu dei rizada. Perguntei a ele: "Que é isso? Está se candidatando, é? Taí o seu lado terráqueo forte. Vou casar com um prometido de Capella, estamos perdendo nossa raça pura. Ele é puro e eu sou mestiça e aí vão dar crianças puras. Lá no laboratório eles cuidam disso."
- Já conhece ele?
- Não, o meu pai que falou isso agora, quando esteve aqui.
- O seu pai esteve aqui?
- Pai, mãe e irmãos.
- Puxa vida... Queria ter conhecido eles. Já pensou? Uma família de ETs? Que outras diferenças tem lá? Tem bichos, tem plantas?
- Tem! Tem frutas, flores, pássaros, borboletas... Que vieram de lá pra cá. Muitos. Outros que restaram são originários daqui. Muitos dos que vieram já estão extintos, como aves como o dodó. Algumas espécies de felinos, caninos e alguns pássaros.
- E tem cinema, shopping, lojas?
- Lojas, tem. Shopping, não. São lojas de determinados artigos únicos. Móveis, só vende móveis; ferragens e ferramentas, recibos... Não tem supermercado. Toda família tem plantado o que come. Não tem banco, não tem dinheiro, não tem veículos como os daqui. São mimi naves que flutuam. Todo mundo tem uma em cima de casa. Eles não poluem o ambiente.
- Tudo futurista. Deve ser chato lá...
- Mas não é, não. É muito bom, tudo. Muito amplo, organizado.
- Tem discoteca, boate, cinema, bar?
- Tem discoteca, cinema... Boate e bar, não. Só se bebe vinho lá, que faz parte da alimentação. O resto é chá e sucos.
- Tudo careta, lá. E as diversões, quais são?
- Leitura...
Ele me interrompeu e disse: E leitura é diversão, ET? Eu gosto de ler, mas não é diversão, é distração.
- Então você não sabe ler. Tem que sentir, se inteirar, senão fica chato mesmo. Ouvimos música...
- Música? Tipo "Guerra nas Estrelas"?
- Não. Assim como as daqui. A música é universal. Nosso estilo é mais clássico. Mas eu gosto de jazz, algum rock daqui... Músicas que me agradam.
- Sabes dançar?
- Isso é inquérito, não é mais uma conversa. Gosto de dançar, sim.
- Vocês dançam que nem robô?
- Eu tenho jeito de robô?!
- És meio durona, assim, reta...
- Eu tenho postura. Isso chama-se postura, elegância, sou comedida.
- É, eu sei. Isso que tu chamas de postura é calma, segurança, seriedade, altivez, essas coisas....
- Você é um garoto inteligente, sabe falar bem.
- Rapaz. Não sou um garoto, sou um rapaz, já.
- Pois não, seu rapaz.
- Mas... Me conta dos seus pais. Como eles são?
Eu tirei a foto da carteira e mostrei a ele. Ele olhou com atenção e ficou surpreso:
- Nossa, eles são bonitos! Exóticos. Os homens não têm cabelo, é?
- Não, são carecas. Os pleiadianos que são cabeludos.
- Você não é careca. Você tem cabelo e a sua mãe também.
- É o ambiente daqui que faz nascer cabelos. A minha mãe é da Terra, eu sou mestiça, metade pleiadiana e metade terráquea. Puxei pra minha mãe, mas até as mulheres de lá são carecas.
Nessa conversa toda, comemos duas bandejinhas de caqui que eu levei quando fui. Sempre tenho bandejas de caquis, figos e uvas na geladeira - comprei uma geladeira, pois o frigobar não dava mais conta.
Levantei e disse que ia embora.
- Espera aí, ET. Vamos conversar mais...
- Não. Amanhã vamos sair, vou dirigir, preciso dormir.
- Como você dorme?
- Dormindo. Tchau.
Beijos